Como se relacionar com o turismo, inclusive o turismo de aventura, quando ele é apenas uma perpetuação de modelos sociais, raciais, ambientais e econômicos pautados na nossa longa herança colonial e escravocrata?
Na esfera do turismo de aventura devemos ter sempre em mente que estar na natureza não isola as pessoas das mesmas relações e modelos mencionados, que continuam e continuarão nos atravessando nos ambientes naturais, e vão se refletir por exemplo nas interpretações e usos da relação cliente x guia contratado (que pra muitos é apenas um serviçal disponível para realizar um mero trabalho físico e lido como simples), e também em questões como a escolha dos destinos, formas de acesso e do que motiva a ida dos aventureiros à espaços naturais e à comunidades não urbanas.
São questões que se desdobram em muitas outras, mas que invariavelmente são causadas pelo modelo de sociedade de nosso país (e de outros), onde o turismo muitas vezes é meramente uma agressão disfarçada.
Enquanto certos hábitos e comportamentos que já são internalizados e engessados não forem entendidos e revistos, as relações serão sempre desiguais ou até mesmo violentas. E obviamente, todas as vezes em que isso ocorrer esperamos que haja por parte de alguns uma leitura consciente, e como resultado resistência.
O que não pode continuar a ser aceito é que agentes herdeiros e perpetuadores de diversas formas de exploração continuem a comercializar o natural dando a esta relação roupagens modernas e revisitadas!
É preciso tomar consciência de que empresas, atletas, influencers e uma mídia de base racista, preconceituosa e colonial não acabarão com o racismo, o elitismo, a exploração e o apagamento de tudo que não é feito à imagem, semelhança e permissão da branquitude e da colonialidade!
Fica esta reflexão!
Artigo de Denilson Silva, sociólogo e criador do Negritude Outdoor.
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